Sem Rochemback, Grêmio indefine marcação central

Domingo, Estádio Olímpico: D’Alessandro recebe livre na entrada da área, gira e chuta no canto esquerdo. Gol do Inter, 2 a 2. Quarta-feira, Engenhão: Conca recebe livre na entrada da área, conduz e bate no ângulo direito. Gol do Fluminense, que então fazia 1 a 0 (venceu por 2 a 0). Além da nacionalidade dos jogadores, da perna esquerda preferencial, da localização na hora do chute, e do posicionamento adiantado do Victor em ambos, há outra coincidência importante nos dois gols de argentinos sofridos pelo Grêmio consecutivamente: Rochemback não estava em campo.

No Gre-Nal, Rochemback foi expulso. Adilson entrou, atrapalhou-se na proteção à linha defensiva, e quando saiu para combater outro jogador, liberou D’Alessandro. Cumprindo suspensão, o capitão gremista não enfrentou o Fluminense, e assistiu a mais uma indefinição dos companheiros: Conca saiu da direita para o meio sem ser combatido.

Rochemback como vértice central do losango formado pelo meio-campo gremista no 4-4-2 é muito importante. Ele, apesar do fôlego reduzido quando precisa acompanhar um adversário individualmente (foi assim com Montillo, contra o Cruzeiro) tem uma grande capacidade de antecipar jogadas defensivas. Posiciona-se com precisão e recupera a posse. É um estilo europeu que eu chamo de ‘reboteiro’. Rochemback invariavelmente está no lugar certo para combater e recuperar a bola. Na frente da área.

Ontem, sem Rochemback, indefiniu-se a marcação no gol de Conca. Apesar das críticas a Souza, não era atribuição dele este combate. Souza atuou como apoiador pela direita, e o lance se deu na esquerda tricolor. Um replay do gol mostra Souza, antes de Conca receber, apontando para o argentino que corria à distância dele, como quem implora para algum  companheiro acompanhar. Não tinha como Souza chegar em Conca naquele lance. Estavam distantes. Era atribuição de Vilson, ou de algum zagueiro – assim como era para Adilson, ou algum zagueiro, bloquear D’Alessandro no Gre-Nal.

No 4-4-2 em losango as marcações são mistas, dependendo do adversário. Podem ser especificamente por zona, ou então individuais em caso de ‘espelhamento’ – contra o Cruzeiro isso aconteceu. Ontem, Conca poderia tanto ser perseguido individualmente por alguém, ou então ser combatido pelo marcador da zona onde ele entrasse.

Respeitando a grande enxurrada de críticas a Souza, e sem necessidade de defendê-lo, absolvo o camisa 8 de culpa no lance do gol. Aliás, porque há uma necessidade tão grande do debate sobre futebol sempre buscar vilões? Conca aproveitou-se de uma indefinição na marcação para acertar um chute de exceção no ângulo. É craque, craques fazem isso. Já diz a teoria do futebol: ‘quando há encaixe de marcação, sobressai-se a qualidade do jogador’. Sem encaixe, e com qualidade acima da média, dá nisso. Um golaço.

 

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3 respostas para Sem Rochemback, Grêmio indefine marcação central

  1. Ratofx disse:

    Concordo 100%.
    Numa boa, o Grêmio tava bem, até o meio. Sei que te chateia ver zagueiro dando chutão, mas eu fico muito mais nervoso vendo o Vilson driblando na frente da grande área. Ao meu ver foram 3 os fatores que travaram o Grêmio no Engenhão : A absurda falta de precisão/calma/categoria para fazer o gol, Conca e Heber Amarelão, nesta ordem.
    O time ta com a cara do Renato, mas precisa matar o jogo logo, se não ninguém aguenta. Já é o 2° jogo que o time mantem a pressão, toca a bola e não converte em 3 pontos. Todo ataque do time dava uma vontade de apertar com força o botão do quadrado no controle do play.

  2. augusto disse:

    continuando o debate do twitter:

    concordo em tudo o que tu postou. na teoria está perfeito. mas a prática é: não dá pra deixar um jogador da qualidade do conca sozinho. não interessa quem deveria ou quem não deveria marcar, interessa que o cara não pode ficar livre. a manutenção do esquema de jogo está hierarquicamente abaixo disso.

    voltando um pouquinho o lance tu vai ver que o souza estava acompanhando o conca, que se movia da esquerda de ataque para o centro. quando chega até a intermediária o souza para de marcar, na esperança que o primeiro volante, vilson, assuma a marcação.

    minha crítica é: em detrimento de quê o souza parou de marcar o conca no lance? de perseguir a bola que foi para o fernando bob? não há nenhum outro jogador adversário que seja tão importante quanto conca que justifique uma eventual troca de marcação. deixa o fernando bob avançar com a bola pq dali não vai sair muita coisa, mas não deixa o conca livre.

    neste lance a marcação está assim distribuída: gabriel no carlinhos, rafa marques na sobra, aguardando um cara do flu que foge da marcação do jonas, paulão em washington, vilson em um terceiro homem na entrada da área e fábio santos comendo mosca, deixando o mariano chegar livre (que é quem toca a bola para o conca).

    enfim, na minha opinião souza falhou em julgar que fernando bob merecia mais atenção que conca.

  3. Ricardo Santolim disse:

    Muito forçado o comentário de que o Victor estava adiantado. Estava onde tinha que estar (gol do D’alessandro foi no cantinho, se ele estivesse em baixo dos paus passaria ainda mais longe da bola). Na velocidade do futebol atual, todos os goleiros jogam alguns passos para a frente, podendo abafar uma enfiada de bola com mais facilidade e fechando melhor o ângulo.
    Me chamou mais a atenção a movimentação do ataque colorado no gol do Grenal. Contra o Flu sim, é uma falha completa dos volantes. Mas no fim de semana, o Alecsandro sai da área e confunde a marcação gremista. O Vílson sai nele, restando Sóbis e D’alessandro para o Adílson e para o Rafael Marques. O Sóbis recebe livre, quem está mais perto? Adílson. Nesse momento o Alecsandro parte em direção a área, o Rafael vai nele (deixando o D’ale sozinho), mas o Vílson também o acompanha.

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